quarta-feira, 2 de abril de 2014

DO FRESCOBOL AO JETSKI

Proibitivos ou deveras proibidos... Necessários e até úteis ou supérfluos e inúteis. Convenientes ou inconvenientes... Essenciais ou desnecessários?... Baníveis ou permissíveis?...
O leque dos itens e das indagações pode atingir o enfado... O essencial, todavia, pode ainda permanecer oculto ou só e apenas comodamente no esquecimento. O que determina ou dá prioridade?... O que mobiliza e o que acomoda?... O que já nasce e vem com cara de fruto proibitivo? Ou o que precisa e necessita provocar, até mesmo matando aos estreantes inocentes, para só daí então vir a ser considerado perigoso e até potencialmente fatal? Para completar e assinalar frisando o enfoque dado ao início acrescente-se perguntar quais deverão ser as atitudes e medidas a serem adotadas?
Sinto-me já curioso, apreensivo e cauteloso só em imaginar. Agora é a ocasião da ocorrência dos fatos. Quando esta indagação for tornada em conhecimento já terá decorrido algum tempo... E, então?... O que aconteceu? Foram proibidos, banidos e colocados fora da lei ou tiveram a posse e a utilização somente restritas e regulamentadas? Ou nem isto, ainda? Cair no comum esquecimento não será possível e permitido ao caso tendo em vista a natureza da ocorrência. Esta não será a última e passível de se olvidar porque virá a repetir-se inexorável com a mesma persistência de sua previsibilidade.
Estou em referência óbvia ao uso e abuso dos conhecidos veículos moto-aquáticos, denominados singela e amavelmente de jetskis. E ao fato trágico da morte de uma criança, ainda menina de quatro anos de idade em seu primeiro dia de praia na vida, quando foi atropelada e...  Morta.
Teria efetiva necessidade de tão danosa ocorrência material para evidenciar a potencial periculosidade em meio a uma densa e descontraída presença humana?
Por seu lado, o frescobol teve necessidade de liquidar tão somente a tranquilidade e a despreocupação com sua pequena bola de borracha para se tornar inconveniente e vir a ser socialmente banido. Fico inteiramente favorável à interdição. É deveras perigoso se considerar-se a consequência de uma bolada no nariz ou num olho. Mas, ao comparar-se com o abalroar moto-náutico de algo movido a jato, fica-se a indagar explicações.
Poderia ter escolhido a peteca como objeto virtual danoso, mas como tanto suas características operacionais, seu âmbito de exercício e o grau de incomodar sejam similares, mantenhamos os parâmetros já estabelecidos.
Estabelecidos assim tais parâmetros marginais, passemos a considerar o miolo da questão.
Qual vem a ser a escala de valores? Quais as motivações efetivas psíquicas e psicológicas, mentais e emocionais, sociais ou materiais, econômicas ou políticas, religiosas ou filosóficas a estabelecerem limites lógicos e razoáveis? O que determinaria a preocupação com o necessário e até o indispensável? E o que motiva e explica o zelo banal com a mesquinharia e o supérfluo dispensável? Existem indiscutivelmente os fatos e questões razoáveis, afinal não estamos diante da loucura total e desbragada, caso este em que a inviabilidade já estaria estabelecida e efetivada, embora pareça estar faltando pouco. Porém, persistem simultaneamente as falhas inexplicáveis e permanentes, enquanto florescem gratuitas e sobejamente as flores do mal.
Para citar alguns exemplos de ambas as situações indicadas e não pairar dúvidas vai-se ao elenco possível, constatando agora no ato, que para cada caso necessário e indispensável ocorreram-me diversos dos supérfluos dispensáveis, ou discutíveis, ao menos sanguinária e fisicamente inócuos.
Assim, teremos:
Jetski / Frescobol. Armas de fogo(com registro e porte) / Idem(sem papéis). Armas brancas e porretes / Topless, nudismo. Álcool e nicotina / Fuminho maroto. Agressivos e estressados ao volante (habilitados) / Utilização de bermudas, chinelos, óculos,   cadeirinhas, estojos de primeiro socorro, cintos de segurança, luzes e lampadinhas. Matar o guarda florestal (crime afiançável) / Derrubar árvore ou caçar um tiziu ou tico-tico (inafiançável).
Sinto interromper tanto a citação quanto a indicação, porém ocorre-me a necessidade de lembrar que o fato não é novo ou nem atual e moderno. Já desde eras egípcias e babilônicas encontraremos relatos, lendas e história em torno. Em registros legais petrificados como o caso da conhecida Pedra de Roseta na qual Champollion clareia tradução aos enigmáticos hieróglifos temos banalidades tratadas. Escritos doutrinários de preceitos orientais não escapam. Livros religiosos bíblicos hebreus permeiam respeitosa sabedoria com relatos de banalidades históricas versando desde a própria criação humana com detalhada e precisa fixação de data, época, métodos e meios, também até para o planeta e o próprio universo. Silêncio a respeito seria mais valioso. Porém deixaria o vazio insuportável... e então vence a lorota...
Na incipiente sabedoria grega floresce a filosofia e Sócrates, ao priorizar a indagação desponta com aquela corajosa inovação, na sua constatação de que sabia que nada sabia. Mas, mesmo lá, é afinal silenciado com cicuta. Pois até ali, existiam Deuses poderosos e tenebrosos nos cumes do Olímpo.
Dentro de mais três a quatro séculos surge outro inovador corajoso na sua mansidão. Pouco afirma e quase nada contrapõe, mas compara muito da realidade já materialmente estabelecida.
Com suas parábolas, gestos, atitudes, ensinamentos estabeleceu o perdão e o amor ao próximo, como novidades potencialmente salvadoras da humanidade. Sem negar o divino esotérico conceitua a duplicidade virtual entre criador e criatura, pai e filho, estabelecendo igualdade entre o eu em si e seu semelhante. Tal a revolução conceitual, ideológica, religiosa, dogmática, filosófica, moral, até já humanística e potencialmente social, bem como também revolucionária em termos de psicologia aplicada ao ser em si e que provocou a maior, ou pelo menos uma das maiores mudanças na expressão de conteúdo da espiritualidade humana: o Cristianismo.
Novamente então, repetindo a reação grega, ao ver os seus interesses sacerdotais em perigo ameaçados, a classe de druidas com poderes estabelecidos reage prontamente alarmada. Estabelece argutamente a Poncio Pilatus, ainda que com as mãos lavadas, como conveniente testa de ferro representante do poder Romano em vigor reinante e felina e habilmente mais uma vez mortalmente ataca. Desta vez a crueldade aponta suas garras, ao comparar-se com a enaltecida, doce e elogiada anestesia da cicuta relatada pela ferina ironia do gigantesco mestre heleno.
A consubstanciar-se numa indicação de ser o humor Divino, na contrapartida da doida, doentia e burra, ainda que esperta e sagaz idiotice Maligna, aquele martírio feroz que pretendia ser tão destruidor no ato em si como em futuro e para sempre aniquilador, estabeleceu-se no fato a enaltecer e consagrar definitivamente em infinita glória os ensinamentos, a doutrina e o supliciado. Agora, ironia aplicada ao caso, faz transcender até a imagem do acontecimento e do próprio condenado quando enaltece até o instrumento do suplício, também como objeto sagrado. Hoje não só o conjunto cenário da crucificação como mesmo o retratar pessoal imaginário de Jesus, mas a própria cruz se faz consagrada.
Isto é ímpar, quase inexplicável e até incompreensível sendo o único caso assim estabelecido e não abominado. Não veremos a corda isoladamente como representação simbólica do heroísmo de Tiradentes e nem a caneca de veneno lembrando sabedoria, a coragem pessoal e cívica e a inteligência de Sócrates. Nem cepo, machados e guilhotina enaltecendo revoluções e revolucionários, ou fuzis, metralhadoras e paredões representando outros mártires.
A tomarem-se tais ocorrências como marcos estabelecedores de fixação do período para a idade áurea da humanidade, como de fato o são, continuemos observando e analisando o desdobrar dos acontecimentos posteriores. Após aquelas fases mergulhou a humanidade em obscuros tempos medievais. Quando tornou em renascimento o clássico e o elevado das categorias referidas já voltou deturpado ou até vinculado aos interesses opostos a que inicialmente combatia. Assim, a retomada positiva alcança e abrange muito mais ao interesse materialista do que aos conceituais, ficando na prática estagnados ou quase inalterados os princípios elementares e todo o relativo ao emocional, ao psicológico e ao espiritual.
Aconteceram novidades, sim, até muitas. Citemos apenas ao mestre Sigmund Freud, exemplificando no caso dos primeiros dois aspectos apontados. Mas, o espiritual apenas se deturpou, dividiu e até deteriorou enquanto materialmente disparou-se da tecnologia elementar dos meros arco e flecha e da roda até aos foguetes e naves espaciais, dos escritos a carvão e tinta em pergaminhos à mídia eletrônica e aos recursos da inteligência morta, mas mesmo assim poderosa e rica dos métodos artificiais. Na medicina partiu-se dos ensinos de Hipócrates e do conhecimento das ervas e cirurgias elementares aos transplantes de órgãos vitais, imunologia avançada, segredos genéticos básicos e descobriu-se a sequência helicoidal do DNA.
Agora dispondo cumulativamente conhecer até mistérios do espaço e do tempo com a visão da relatividade de Albert Einstein, tendo pisado na face da Lua e adquirido poder e a capacidade de manipular e criar a vida nos laboratórios, ainda não sabe, não quer ou não pode abandonar a barbaridade. Se apenas adolescentes irresponsáveis tomassem jetskis ali disponíveis como um fuzil sobre uma mesa ou dependurado numa parede como ornamentação, seria pouco. Acontece, todavia, de poderosos presidentes, chefes nacionais e preparados generais praticarem atos piores, mais sanguinários, e ainda, conscientes, calculados e premeditados, impunemente. Portanto, não fica incompreensível assistir a trucidamentos inimputáveis culposos, barbaridades diplomática e politicamente legais, em convivência com níveis de criminalidade sociais também estarrecedores.
Deveria sim ser politicamente inaceitável, socialmente muito preocupante e civicamente inadmissível. Mas, porém, todavia, contudo... Estão acontecendo!...
Existe solução ou remédio?
Só Deus é que sabe...
E, não só parece, mas existe registro escrito apocalíptico alertando que... Não!
E agora... José?!
Esperemos para ver...
Pessoalmente, vou levando a vida de observador estratégico, como espectador privilegiado um tanto quanto fora da trajetória das balas... muitos cuidados e apenas parcialmente a salvo. Já procurei intervir para tentar mudar a trajetória descrita e senti a inviabilidade quase sendo massacrado... Predomina evidente a já referida doida idiotice Maligna, que parece confiar e esperar mais da burra e ineficaz ação repressiva de contenção de resultados do que na erradicação das causas.
É de imaginar-se ainda hoje a dura luta de um sábio como foi o então visionário da medicina Dr. Oswaldo Cruz, a pregar e bater-se pela erradicação do mosquito transmissor do mal com prioridade ao tratamento sintomático das febres.
E, então?!... O que aconteceu?  Proibidos? Banidos? Regulamentados?...
Ou, nem isto, ainda?...

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