- O diabo convocou-me e não aceitei o convite... E ficou macho comigo
...
- Ora... Zeca... Cuide-se com as palavras....
- Mas... Foi o que aconteceu... Propôs aliança, mas preferi a ralação.
- Pacto com o demo é sempre de alto risco...
- Minha contraproposta ele não aceitou...
- Que argumento foi o seu?
- O inverso de todos que pedem apoio divino para faturar na loto...
- Como assim? Explique melhor...
- Todos pedem e prometem ajuda hipócrita a todos necessitados... Uso do dinheiro em grandes obras produtivas... E somente incentivar bons comportamentos.
- É um entendimento conveniente...
- Mas geralmente falso e interesseiro...
- É... Pode ser... Humanamente natural... E... Muitas vezes o atendimento do pedido, vem para ser motivo de ruína e desgraça...
- Pois, minha avó já dizia... Que dinheiro precisa ser ganho com trabalho... Para Deus só se pede saúde, paz e que não falte o necessário pão de cada dia.
- Este é o contido na principal das orações.
- Então... Sendo assim... A alternativa é o Demo.
- Só que... Pacto com o Diabo é jogo de alto risco e insegurança...
- Foi aí que contra-argumentei ao tinhoso...
- Em que termos?... Estou já até curioso.
- Sem comprometer a alma... Lembrei-me de um fato acontecido...
. . . . . . .
- Estava um entardecer chuvoso e já escuro, quando ouvi soar a sineta do portão e fui ao atendimento. Ao abrir a porta, veio-me um bafo molhado e serenado, de cachaça e muitos dias sem banho e higiene. Reconheci a figura de um negro ainda novo e magricela, do qual sabia tratar-se de enfermeiro ocasional, mas de alta categoria e prática profissional. Num gesto automático, apontei-lhe o dedo e afirmei-lhe o reconhecimento. Arregalou os olhos de susto e quase saiu voando. Emendei a seguir que podia acalmar-se, que eu não era da polícia, e o reconhecia de profissão. Depois de longo suspiro de alívio e conversa entabulada, passou a contar-me o seu infortunado destino. Família desarticulada por intrometidos e filhos perdidos. Bebida e drogas de toda natureza passaram a freqüentar-lhe os dias de um viver frustrado. Depois de mais alguns detalhes daquele viver insólito, dei-lhe o ajutório pedido, que nem queria mais aceitar. E, o episódio serviu-me de guia para o pactuar.
- Então diga logo, qual foi a proposta recusada?
- Sem comprometer a alma... Num contraponto das propostas ortodoxas...
- Sim... Então diga logo qual foi...
- Não ajudo ninguém... Só gasto o dinheiro em farra... E não nego pinga a pinguço.
- Éé... Até porque existe a estória da proteção privilegiada dos pinguços...
* * * * * * * *