sábado, 24 de setembro de 2016

PACTO COM O DEMO

          - O diabo convocou-me e não aceitei o convite... E ficou macho comigo
...
          - Ora... Zeca... Cuide-se com as palavras.

          - Mas... Foi o que aconteceu... Propôs aliança, mas preferi a ralação.

          - Pacto com o demo é sempre de alto risco...

          - Minha contraproposta ele não aceitou...

          - Que argumento foi o seu?

          - O inverso de todos que pedem apoio divino para faturar na loto...

          - Como assim? Explique melhor...

          - Todos pedem e prometem ajuda hipócrita a todos necessitados... Uso do dinheiro em grandes obras produtivas... E somente incentivar bons comportamentos.

          - É um entendimento conveniente...

          - Mas geralmente falso e interesseiro...

          - É... Pode ser... Humanamente natural... E... Muitas vezes o atendimento do pedido, vem para ser motivo de ruína e desgraça...

          - Pois, minha avó já dizia... Que dinheiro precisa ser ganho com trabalho... Para Deus só se pede saúde, paz e que não falte o necessário pão de cada dia.

          - Este é o contido na principal das orações.

          - Então... Sendo assim... A alternativa é o Demo.

          - Só que... Pacto com o Diabo é jogo de alto risco e insegurança...

          - Foi aí que contra-argumentei ao tinhoso...

          - Em que termos?... Estou já até curioso.

          - Sem comprometer a alma... Lembrei-me de um fato acontecido...


 . . . . . . . 



          - Estava um entardecer chuvoso e já escuro, quando ouvi soar a sineta do portão e fui ao atendimento. Ao abrir a porta, veio-me um bafo molhado e serenado, de cachaça e muitos dias sem banho e higiene. Reconheci a figura de um negro ainda novo e magricela, do qual sabia tratar-se de enfermeiro ocasional, mas de alta categoria e prática profissional. Num gesto automático, apontei-lhe o dedo e afirmei-lhe o reconhecimento. Arregalou os olhos de susto e quase saiu voando. Emendei a seguir que podia acalmar-se, que eu não era da polícia, e o reconhecia de profissão. Depois de longo suspiro de alívio e conversa entabulada, passou a contar-me o seu infortunado destino. Família desarticulada por intrometidos e filhos perdidos. Bebida e drogas de toda natureza passaram a freqüentar-lhe os dias de um viver frustrado. Depois de mais alguns detalhes daquele viver insólito, dei-lhe o ajutório pedido, que nem queria mais aceitar. E, o episódio serviu-me de guia para o pactuar.

          - Então diga logo, qual foi a proposta recusada?

          - Sem comprometer a alma... Num contraponto das propostas ortodoxas...

          - Sim... Então diga logo qual foi...

          - Não ajudo ninguém... Só gasto o dinheiro em farra... E não nego pinga a pinguço.

          - Éé... Até porque existe a estória da proteção privilegiada dos pinguços... 


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