quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

ESTÓRIAS DE PADRE COMARCO E AS PARÁBOLAS DE ZECA PITÃO

Zeca Pitão era uma figura rara... E, como toda estampa difícil, indispensável em cada coleção, igualmente parece indispensável a existência de Zecas em quase todas as comunidades... O que varia é o estilo...

Pitão era bem caracterizado... Começava por possuir uma personalidade multifacetada... ou, pelo menos... dupla. Se bem que, duplicidade de comportamento não seja raridade, da qual alguém esteja a salvo.

Afinal, é mesmo, tópico de ciência, em psicologia e sociologia, a duplicidade mínima dos papéis que cada indivíduo desempenha, na vida social e privada, e seus respectivos.

Mas, a multiformidade apresentada em Zeca, à qual nos referimos, era a de tipo menos comum, embora encontradiça como já se apontou, em quase todo grupo social, nas suas diversas variedades.

Enfim, Zeca Pitão era pelo menos sonso, mas simultaneamente bobo e ladino, do tipo que se faz de morto para surpreender o coveiro.

- Taí... Tipo danado!... Existe, mesmo!... Eu já vi!... – comentava-se.

E... Zeca ia sempre à Missa... Era costume dele.

- É verdade... Existem vários assim – confirmavam.

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Padre Comarco era dono de estilo, e possuia do dom com a finura que lhe cabia.

Era também bom gracejador... Daí para historietas interessantes, que visavam atrair e prender a atenção de seus ouvintes era menos do que um passo. Com o tempo, suas narrativas tornaram-se conhecidas, e ganharam divulgação.

Depois de muita distração, Zeca deu-se em prestar atenção nas parábolas de padre Comarco. Afinal, chegavam a ser muito interessantes... Era verdade!

- É verdade... – repetia-se.
E, o Zé, interessou-se em ler a Bíblia. Lá, acabou por compreender o que eram parábolas... Gostou!... e... Começou a elaborar as suas também.
- Humm!... – ouvia-se.
Assim, passaram a ser conhecidos os causos de Zeca Pitão, em contrapartida às parábolas do padre.

Padre Comarco era um frade, de cabelos brancos e ar alegre que lembrava uma figura entre santo e divertido como um duende. Ao conjunto de suas características somava-se um profundo conhecimento filosófico que completavam suas qualidades incomuns.
Como resultado, era querido de todos. E, de seu lado, amava a todos com pureza de coração. Nisto incluía Zeca Pitão, o que era raro para este, pois como já ficou estabelecido, tratava-se de figura difícil, e difícil também era o entendimento e a convivência com o tipo. 

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Aquela singularidade provocou outra, em simetria, do lado de Pitão. Pois este, acostumado ao desprezo geral, desconsiderado como pessoa normal, objeto de chacotas e todo tipo de caçoadas, encontrou em Comarco um respeito e consideração humana que lhe eram desconhecidos.
Numa dialética natural, isto lhe redundou em elevação do amor próprio e até no florescimento de certo orgulho. Pois, pressentia uma independência e uma liberdade psicológica incomuns aos dos seres considerados normais.      

Acrescente-se o fato de que sua própria existência era uma exceção.
Embora lhe fosse desconhecido, o pai era de estirpe nobre. E a mãe, que o abandonara recém nascido, era uma rapariga, pivete espaventada que se criara também nas ruas. Assim, se dependesse do esquema social e das normas estabelecidas, Zeca Pitão jamais teria existido.

Mas existia e era inteligente, ainda que considerado louco.

Quando ouviu num sermão do sacerdote, a afirmação de que no final dos tempos Jesus deveria retornar à face da Terra, em condições virtualmente opostas às de sua primeira e anterior presença, e com o objetivo de conferir, avaliar, julgar e cobrar o resultado de seus ensinamentos ficou intrigado.

Estava já convencido de que os sinais anunciados para o fim dos tempos eram evidentes e constatáveis, tais como o aquecimento global e suas consequências climáticas e ambientais assoladoras, propagação de doenças e epidemias bem como o surgimento de novas e incuráveis moléstias, guerras absurdas, incontroláveis e inexplicáveis, comportamentos individuais bestiais e assassinatos inconsequentes, mortandade em massa de inocentes e corrupção generalizada de valores e costumes... Em todas as áreas... No comércio, a fraude e o roubo faziam-se incontroláveis. Assaltos com requintes de ousadia extremos, devassidão, pedofilia e todas as perversões grassavam pelas ruas e em quase todos os ambientes.

Acrescentava-se a tudo isto a conhecida existência das diversas profecias Apocalípticas.

Ouvira falar das previsões do Mago Michel de Nostradamus, e ficara era deveras preocupado.

Com a própria palavra de frade Comarco, que tudo fundamentava em suas citações abalizadas nos Livros da Bíblia, era também corroborado e achava muita coincidência com o que acabara ouvindo a respeito das lendas e circunstâncias existentes no conhecido e comentado calendário do povo Maia.
Assim, desta forma, presenciara as apreensões generalizadas ocorridas quando da virada do calendário do milênio, por ocasião do ano dois mil.

Tanto as de natureza mística como também as de natureza material e circunstancial, no que se referiu ao temido fenômeno conhecido como “bug” do milênio.

Como nada aconteceu então, pressentiu que no mundo todos respiraram aliviados.
Porém, notou ter sido justamente a partir daquela data e ocasião que os acontecimentos fenomenais observados desandaram em si.
E, para confirmação das coincidências, reparou que, no intervalo de dois mil a dois mil e doze, data estabelecida nas contagens Maias, perfaziam-se doze anos, ou seja, exatamente um ano para cada signo do Zodíaco.

Mas!... Onde estava Jesus?!... Quem era?!...
Com tal indagação a coçar-lhe os miolos, passou a investigar e procurar confrontando as características opostas. 

Se da primeira vez Jesus tinha nascido pobre, numa manjedoura, manso e cordeiro, pregara a paz, o perdão das maiores ofensas e o amor incondicional e até mesmo preferencial aos inimigos, quem seria hoje o oposto de tudo isto?!
Quem teria agora nascido rico e milionário, em berço de ouro, guerreiro e bravo, pregando e praticando a luta e a guerra, sem falar em perdão e até disposto a ter todos os poderosos como inimigos?

Coçando a cabeça certo dia diante da televisão, que assistia junto de Comarco, ao ver estampado o semblante impassível de Osama Bin Laden, apontou e disse.
- É Ele!... É Ele!! A única coisa que não mudou foi a cara!!
E terminou emendando.

- Agora, só falta desaparecer e sumir o corpo quando morrer!
 
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